sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A Filosofia como exercício de liberdade em Hypatia: uma reflexão de Luís Gonçalves a propósito do filme Ágora


“São mais as coisas que nos unem do que aquilo que nos separa
“(…) o que dizem poder ser refutado. Neste momento não sei como …”
“ Acredito na Filosofia. Eu sou livre“
                                                    Hypatia, Astrónoma, Filósofa, Cidadã

Filme : Ágora , 2009
Realizador : A. Aménabar

Contexto: Egito, 391 d.C.

Quando o lema do Dia Mundial da Filosofia 2012, nos convoca para nos preocuparmos com “as Futuras  Gerações”, um regresso ao passado de 1600 anos atrás, que o filme de Aménabar  nos proporciona,  abre-nos a “avenida da crítica“ que desafia a reconfiguração das gerações que virão,  para um diálogo constante com as dúvidas e as questões que o passado não deixa adormecer.
Conduzidos por Hypatia na nossa viagem pela Ágora, somos desafiados para o papel maiêutico (à boa maneira de Sócrates) da interrogação  e para a inescapável incomodidade que ela gera em todos os que a “ habitam”.
Da Ágora egípcia emerge, numa primeira linha a discussão do papel  da mulher  na sociedade e do seu poder desafiador  de preconceitos, de instituições e de saberes,  protagonizada por alguém que com uma mente aberta para os seus alunos, confronta um mundo que quer silenciá-la  e cujas limitações preconceituosas ela põe a descoberto.
Numa segunda linha, a Ágora é exercício vivo de combate a todas as formas de intolerância, sejam elas científicas, religiosas ou políticas, onde uma vez mais Hypatia dá mostra da sua coragem para desafiar de forma justificada, os fundamentalismos que habitam a Alexandria do seu tempo.
Não será por isso despiciente para a compreensão do modo de ser e de estar de Hypatia, que o local escolhido para o desenrolar do confronto dramático da astrónoma, filósofa e cidadã com os poderes estabelecidos do seu tempo, científicos, religiosos ou políticos, fosse a Biblioteca de Alexandria, o lugar de tolerância por excelência. 
Numa terceira linha, Ágora é um manifesto do poder revolucionário que o reconhecimento da ignorância tem na busca da compreensão do mundo, das pessoas, das ideias, numa palavra do caminho para construir pontes mesmo quando a intolerância e a violência andam à solta e tomam conta das mentes e dos comportamentos humanos.
Apanhada no turbilhão da história do seu tempo e das vicissitudes dum mundo à procura de si e da sua identidade, Hypatia acabará sacrificada no altar dos interesses políticos, religiosos e científicos da Alexandria romo-cristianizada. 
Mas, … o grito Hypatiano “Acredito na Filosofia, Eu sou livre“, ecoa como a herança que vinda de 391 d.C.… chega ao século XXI e às “Futuras Gerações”, para que estas façam da interrogação, da busca da fundamentação e da discussão crítica das posições e argumentos, a melhor forma de nas suas “Ágoras“ conseguirem viver e agir na incomodidade, mas também na liberdade que só a busca constante da resposta proporciona… 

Luís Gonçalves

Este texto foi produzido no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Filosofia 2012. Aqui fica o trailer do filme:


1 comentário:

  1. E teimamos em privilegiar o quenos separa! Eu também acredito na Filosofia...

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