“São mais as coisas que nos unem do que aquilo que nos separa”
“(…) o que dizem poder ser
refutado. Neste momento não sei como …”
“ Acredito na Filosofia. Eu sou livre“
Hypatia, Astrónoma, Filósofa, Cidadã
Filme
: Ágora , 2009
Realizador
: A. Aménabar
Contexto:
Egito, 391 d.C.
Quando o lema do Dia Mundial da Filosofia 2012, nos convoca
para nos preocuparmos com “as Futuras
Gerações”, um regresso ao passado de 1600 anos atrás, que o filme de
Aménabar nos proporciona, abre-nos a “avenida da crítica“ que desafia a
reconfiguração das gerações que virão,
para um diálogo constante com as dúvidas e as questões que o passado não
deixa adormecer.
Conduzidos por Hypatia na nossa viagem pela Ágora, somos desafiados
para o papel maiêutico (à boa maneira de Sócrates) da interrogação e para a inescapável incomodidade que ela
gera em todos os que a “ habitam”.
Da Ágora egípcia emerge, numa primeira linha a discussão do
papel da mulher na sociedade e do seu poder desafiador de preconceitos, de instituições e de saberes, protagonizada por alguém que com uma mente
aberta para os seus alunos, confronta um mundo que quer silenciá-la e cujas limitações preconceituosas ela põe a
descoberto.
Numa segunda linha, a Ágora é exercício vivo de combate a todas
as formas de intolerância, sejam elas científicas, religiosas ou políticas,
onde uma vez mais Hypatia dá mostra da sua coragem para desafiar de forma
justificada, os fundamentalismos que habitam a Alexandria do seu tempo.
Não será por isso despiciente para a compreensão do modo de ser
e de estar de Hypatia, que o local escolhido para o desenrolar do confronto
dramático da astrónoma, filósofa e cidadã com os poderes estabelecidos do seu
tempo, científicos, religiosos ou políticos, fosse a Biblioteca de Alexandria,
o lugar de tolerância por excelência.
Numa terceira linha, Ágora é um manifesto do poder
revolucionário que o reconhecimento da ignorância tem na busca da compreensão
do mundo, das pessoas, das ideias, numa palavra do caminho para construir
pontes mesmo quando a intolerância e a violência andam à solta e tomam conta
das mentes e dos comportamentos humanos.
Apanhada no turbilhão da história do seu tempo e das
vicissitudes dum mundo à procura de si e da sua identidade, Hypatia acabará
sacrificada no altar dos interesses políticos, religiosos e científicos da
Alexandria romo-cristianizada.
Mas, … o grito Hypatiano “Acredito na Filosofia, Eu sou livre“,
ecoa como a herança que vinda de 391 d.C.… chega ao século XXI e às “Futuras
Gerações”, para que estas façam da interrogação, da busca da fundamentação e da
discussão crítica das posições e argumentos, a melhor forma de nas suas “Ágoras“
conseguirem viver e agir na incomodidade, mas também na liberdade que só a
busca constante da resposta proporciona…
Luís
Gonçalves
Este texto foi produzido no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Filosofia 2012. Aqui fica o trailer do filme:
E teimamos em privilegiar o quenos separa! Eu também acredito na Filosofia...
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