quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Pode um totó transformar-se num super-herói? Ana Cláudia Dias responde à pergunta, a propósito do filme Homem Aranha



HOMEM-ARANHA

O SUPER SUJEITO MORAL


Homem- Aranha é um filme de 2002 que retrata as aventuras de um dos mais populares heróis da Marvel. O filme retrata um jovem órfão, calmo e pacato que vive com os tios. Peter Parker é estudioso, inteligente, muito interessado por ciência, mas tem um problema: Peter Parker tem grandes dificuldades a nível de relacionamento interpessoal, de tal maneira que é mesmo considerado pelos colegas aquilo a que vulgarmente se chama de nerd, ou, para sermos mais claros, é um totó.
Mas como é que um totó pode transformar-se num super-herói?
Um dia, enquanto assistia a uma demonstração científica sobre aranhas geneticamente criadas, é picado por uma delas, o que provocou uma alteração química no seu corpo.
Peter Parker mudou. Agora consegue escalar paredes e tetos, produz teias altamente resistentes, e é dotado de uma espécie de super-sentido que o avisa quando o perigo espreita.
Dotado de super-força e super-visão torna-se imbatível. Nem mesmo o super-vilão Duende Verde, também ele com grande força física e de grande dote intelectual, é capaz de o vencer.
Perante tal mudança, Peter Parker é possuído por uma imensa vontade de utilizar os seus poderes em proveito próprio; aproveita para ganhar dinheiro, por exemplo, apresentando-se em lutas livres exibidas na tv. Nessa pele, Peter adota o nome de Aranha- Humana.
Todavia, quando o seu tio, seu tutor, morre assassinado por um ladrão que fugia da polícia, Peter sente-se responsável por essa morte, pois podia ter apanhado o ladrão e não o fez simplesmente porque achou que não era função sua apanhar ladrões.
E é com este choque que Peter percebe que grandes poderes trazem grandes responsabilidades. A partir daqui torna-se Homem-Aranha, um combatente contra o crime, um super-herói que defende os inocentes lutando contra os maus.
Peter Parker torna-se pessoa: é digno, consciente, responsável, com abertura e proximidade ao outro, capaz de assumir um compromisso com o outro, ou se quisermos, com os outros.
Kant diria que o Homem-Aranha ultrapassou os limites, as submissões e os determinismos próprios da esfera da animalidade, mas também ultrapassou a esfera da humanidade, entrando finalmente na esfera da personalidade, isto é, já não se prende ao que é socialmente aceitável, por assim dizer, ao politicamente correto. Temos assim um Homem-Aranha livre, e só assim capaz do tal compromisso e abertura ao outro, aplicando valores universais a situações particulares, o que significa que o que é preciso é fazer o bem, seja lá onde for, seja lá a quem for.
O Homem-Aranha não é violento, não é egoísta. É digno, pois nele nenhuma ação heróica se pode considerar um meio para alcançar um fim. Pelo contrário, o Homem-Aranha ajuda os outros por eles e porque a sua consciência assim o dita. É livre, autónomo, independente de toda e qualquer convenção, convicção, ideologia ou crença.
Será alguém capaz de afirmar que o Homem-Aranha é religioso? Alguém notou no Homem-Aranha alguma tendência política?
Ao que parece, o Homem-Aranha é bom por imperativo da sua razão. Ajuda os outros sem querer nada em troca, compadece-se com o sofrimento alheio e tudo faz para extinguí-lo, e fá-lo porque sim; porque é um dever ajudar os outros.
O Homem-Aranha não é só um super-herói americano, é um super-herói do mundo inteiro. E se as gerações futuras precisam de referências, ou melhor, de exemplos morais, mesmo que o mundo das presentes pareça virado do avesso, esse exemplo é o Homem-Aranha.
Apetece até dizer: que não morram os super-heróis para que sobrevivam as gerações futuras.
O ideal seria mesmo que as gerações futuras fossem formadas por filhos do Homem-Aranha, porque ele é aquilo a que podemos chamar, sem qualquer lamechice ou piscadela de olho à religião, um exemplo de pessoa humana, ou melhor que isso, um super sujeito moral.

Ana Cláudia Dias

Este texto foi escrito no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Filosofia 2012. Eis o trailer do filme:

1 comentário:

  1. Acho que não percebi o texto. Só pode ser. Essa senhora deve estar a gozar não é? Idolatrações?
    Ou?...

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